A gestão pública requer atributos que
vão muito além do gerenciamento de um negócio. Área de conhecimento com
teoria e conceitos próprios, requer formação e experiência, além de
habilidade política, sensibilidade humana e capacidade de ouvir opiniões
contraditórias antes de tomar decisões.
A Prefeitura de São Paulo não é para
amadores. Estrutura complexa, com centenas de milhares de funcionários e
terceirizados, lida com inúmeras políticas setoriais, regidas por leis
próprias, requerendo coordenação e articulação. Não é uma empresa de
marketing, um canal de comunicação ou um negócio de lobby.
O prefeito ignora essa realidade.
Preocupa-se mais com o Facebook do que em formular políticas públicas em
conjunto com sua equipe. Quer aparecer como um gestor eficiente e
autoritário, que acorda cedo e dorme tarde, como se isso bastasse para
gerir uma megacidade. Espera resultados rápidos, mesmo que efêmeros,
para reforçar essa imagem falsa.
Desinformado e sem estratégia,
vislumbrou na equivocada ação policial na cracolândia mais uma
oportunidade para se promover como um eficiente defensor da ordem e da
limpeza urbana e social. De blusão preto, que lembra as milícias
fascistas, se misturou aos policiais e declarou que a cracolândia tinha
acabado, para espanto de seus próprios secretários.
Sem coordenação institucional,
planejamento e apoio de especialistas, achava que resolveria no grito um
crônico drama social. Improvisadamente, derrubou casarões ocupados,
ferindo moradores, e anunciou um arquiteto de grife para maquiar a área,
como se essa fosse a questão. A cracolândia mudou de lugar e se espalhou.
Ignorando as leis do país e os direitos
humanos universais, o prefeito pretendeu, com bravatas, tirar a questão
social do mapa da cidade, eliminando os seres humanos que considera
indesejáveis e suprimindo os territórios que ocupavam. Por fim, pediu
autorização judicial para recolher, coletiva e compulsoriamente,
supostos usuários de drogas, contrariando a Lei Antimanicomial,
sancionada por FHC em 2001. A mobilização da sociedade, da Defensoria
Pública e do Ministério Público freou os instintos autoritários do prefeito.
O prefeito "novo" reproduz o vício dos
políticos tradicionais: interrompe programas das gestões anteriores, sem
propor nada no lugar. De "novo", apenas a habilidade no Facebook. Que
ele tenha a humildade de dar dois passos atrás: ouvir os especialistas,
avaliar os pontos positivos e negativos do Braços Abertos e debater com a
sociedade a melhor forma de enfrentar o problema.
* Texto do jornalista Nabil Bonduki colunista do Jornal Folha de São Paulo
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